As relações diplomáticas entre Itália e Angola, que no período da pandemia estavam marcadas por altos e baixos, melhoraram significativamente nos últimos anos com o intercâmbio de visitas ao mais alto nível, afirmou o embaixador italiano no país, Cristiano Gallo.
Falando à imprensa por ocasião do 78º aniversário da Itália (Festa Nacional), assinalado hoje, 2 de junho, Cristiano Gallo disse que a visita de Estado do Presidente João Lourenço a Itália, há um ano, confirmou, ao mais alto nível, a firmeza das históricas relações bilaterais.
“Estávamos ainda no período doloroso da pandemia que muito limitou os nossos contactos”, mas que foi rapidamente recuperado mediante árduo trabalho de reactivação dos canais diplomáticos e de intercâmbio institucionais e políticos.
O objectivo, disse, foi o de “fortalecer as prósperas relações que a pandemia tinha quase congelado”, e isso foi conseguido com a extraordinária visita do Presidente João Lourenço à Itália, numa clara confirmação da mais alta firmeza das históricas relações de cooperação.
“Uma relação que nasceu, cresceu e que sempre caminhou com os pés das mulheres e dos homens que escolheram Angola e Itália para viver e trabalhar, a começar pelos padres missionários e religiosos de várias ordens que naquele tempo foram os verdadeiros pioneiros, os empresários e voluntários das ONG”, sublinhou.
Acrescentou que de geração em geração, esses “pioneiros” formaram uma sólida relação humana que só mais tarde se transformou em negócios, trocas comerciais e muito mais.
“Somos todos amigos, Itália e Angola, antes de sermos parceiros económicos e comerciais. Sobre esta base, temos erguido e trabalharemos para reforçar as nossas antigas relações, mas sempre projectado para o futuro”, disse o embaixador italiano.
O Dia Nacional de Itália, a Festa della Repubblica Italiana, celebra-se anualmente a 2 de junho, data que corresponde ao referendo institucional que teve lugar em 1946, depois do fim da Segunda Guerra Mundial e da queda do fascismo, para o povo italiano decidir qual a forma de governo a adoptar.
A cerimónia, que decorreu na residência do embaixador da Itália acreditado em Angola, reuniu várias individualidades, membros do Executivo angolano, deputados, corpo diplomático, representantes de empresas da sociedade civil italiana.
Breve histórico das Relações Angola/Itália
Desde 1977 que Angola e a Itália mantêm relações de cooperação, altura em que foi assinado o memorando que instituiu a Comissão Bilateral, antes designada Comissão Mista de Cooperação.
Angola e Itália assinaram o primeiro instrumento jurídico, denominado Acordo relativo aos Transportes Aéreos, a 10 de abril de 1976.
Angola é o terceiro parceiro comercial da Itália na África subsahariana, depois da África do Sul e da Nigéria.
O Governo italiano considera Angola como um país prioritário para a sua estratégia de cooperação na África Subsahariana desde 1989.
O Presidente da Itália, Sergio Mattarella, visitou Angola em fevereiro de 2019. Entretanto, a cooperação foi reforçada, em 2023, com a visita do Chefe de Estado angolano a Roma.
No quadro da visita, os dois Estados assinaram vários acordos de cooperação, com destaque para os domínios dos petróleos, transportes, finanças e saúde.
ITÁLIA
ESPECIAL – Celebrações do Dia da República Italiana
Embaixadora de Angola participa em Concerto no Quirinal em homenagem ao Corpo Diplomático
Roma, 3 de junho de 2024 – A Embaixadora de Angola na Itália, Maria de Fátima Jardim, marcou presença, sábado (1), no Concerto em honra do Corpo Diplomático acreditado junto ao Estado Italiano, realizado no Palácio do Quirinal por ocasião da Festa Nacional da República. O evento contou com um discurso significativo do Presidente da República Italiana, Sergio Mattarella.
Na sua intervenção, Mattarella saudou os embaixadores presentes, incluindo a Embaixadora de Angola, destacando a amizade e a solidez dos laços que unem os países representados. “A amizade dos vossos países acompanhou-nos nestas décadas e a vossa presença exprime a solidez dos laços que nos unem,” afirmou o Presidente.
O Presidente italiano lembrou a escolha da República pelos italianos em 2 de junho de 1946, marcando o início da vida democrática no país. Destacou ainda a responsabilidade que este voto representou e as aspirações ao bem-estar e melhorias sociais que avançaram junto com as conquistas democráticas.
Mattarella abordou os desafios actuais, ressaltando a necessidade global de compromisso com a paz, liberdade, desenvolvimento, e direitos humanos. Rejeitou compromissos insidiosos que sacrificam direitos por segurança e condenou a violência e conflitos que afectam regiões como a Ucrânia, o Médio Oriente e o Sahel.
Referindo-se à situação no Médio Oriente, Mattarella enfatizou a necessidade de um processo imediato para acabar com os massacres e estabelecer uma paz estável, com o reconhecimento mútuo de Israel e Palestina. Também reiterou a urgência de implementar as resoluções do Conselho de Segurança para cessar-fogo e acesso humanitário em Gaza.
Sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, o Presidente sublinhou o impacto devastador na paz e segurança europeias, mencionando a destruição da arquitetura de segurança construída desde os Acordos de Helsínquia e a nova corrida aos armamentos desencadeada pela Rússia.
Concluindo, Mattarella reafirmou o compromisso da Itália com a proteção dos direitos fundamentais, paz, justiça e solidariedade internacional, bem como a luta contra a fome, doenças e subdesenvolvimento, e a defesa do ambiente, baseando-se nos princípios da Constituição italiana.
A celebração do 2 de junho foi marcada por um olhar confiante e esperançoso para o futuro, sustentado pelos valores mencionados no discurso presidencial.
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Discurso do Presidente da República Sergio Mattarella no Concerto em honra do Corpo Diplomático acreditado junto ao Estado Italiano por ocasião da Festa Nacional da República
Palácio do Quirinal, 01/06/2024
Juntamente com os Presidentes dos órgãos constitucionais da Itália, dirijo uma saudação, nesta ocasião de festa para a nossa República, aos Embaixadores acreditados em Roma.
A amizade dos vossos Países acompanhou-nos nestas décadas e a vossa presença exprime a solidez dos laços que nos unem.
Agradeço à orquestra da Rai, ao maestro Michele Gamba, ao violoncelista Ettore Pagano, com cumprimentos pelo brilhante início da sua carreira. Estamos gratos pelo momento de arte que nos oferecerão e que acompanharemos junto com muitos que o farão através da TV e da internet, a quem envio uma saudação particularmente cordial.
No dia 2 de junho de 1946, a Itália escolheu a República.
Esse voto – no início da vida democrática – representou para os italianos um chamado à responsabilidade. Naqueles anos de esperanças disseminadas, as aspirações ao bem-estar e à melhoria da condição pessoal avançavam juntamente com as conquistas democráticas e sociais.
A conjuntura internacional propõe novamente tempos extraordinários.
Como naquela época, sentimos – hoje a nível mundial – a necessidade de nos empenharmos pela paz, de perseguir juntos em todo o lado a liberdade e o desenvolvimento, a democracia e a disseminação do bem-estar, a maturidade cívica, o crescimento económico e dos direitos: este parece-nos, na comunidade internacional, o grande desafio, o horizonte que temos pela frente.
Rejeitando com determinação compromissos insidiosos: a segurança em detrimento dos direitos, a ausência de conflitos agressivos em troca de submissão, a ordem através do medo e da repressão, a prosperidade económica em troca de subserviência.
Olhamos com amargura e preocupação para a multiplicação de situações de conflito e de violência na nossa vizinhança, da Ucrânia ao Médio Oriente, até ao Sahel.
No Médio Oriente, onde, na sequência da brutal e feroz agressão terrorista por parte do Hamas, com o assassinato de tantas pessoas inocentes, a espiral de reações de violência assustadora que daí resultou cria imensos sofrimentos e um número chocante de vítimas entre a população civil palestina, devastação nos territórios envolvidos, disseminação de ódio para o futuro próximo, insegurança para todos nessa região fundamental.
É necessário iniciar imediatamente um processo que ponha fim aos massacres e conduza finalmente a uma paz estável, com o pleno e mútuo reconhecimento dos dois Estados: de Israel e da Palestina, necessariamente em tempos próximos para que seja realmente possível.
No imediato, reiteramos o imperativo de dar plena execução ao que foi solicitado pelo Conselho de Segurança para o cessar-fogo, o acesso humanitário incondicional à população de Gaza e a libertação imediata dos reféns sequestrados durante o ataque desumano de 7 de outubro.
Com a invasão da Ucrânia – um país independente e soberano – a Rússia trouxe novamente a guerra ao coração da Europa e cavou novamente um fosso entre os países do continente que sonhávamos em paz e colaboração, livres e democráticos de Lisboa a Vladivostok.
A Federação Russa destruiu a arquitetura de segurança que garantiu paz e a estabilidade ao continente europeu por longas décadas, desde os Acordos de Helsínquia de meados dos anos setenta; e lançou uma nova, angustiante, corrida aos armamentos.
Trata-se de um comportamento tanto mais grave por ser realizado por um dos países sobre os quais recaem maiores responsabilidades na comunidade internacional, por ser membro permanente do Conselho de Segurança.
Sentimos todos que de muitas partes do mundo provém um grito de sofrimento, de pedido de serenidade de vida, de progresso, de justiça, de paz.
A Itália, país fundador da União Europeia, participante convicto da relação transatlântica, da amizade e da aliança em que esta se expressa, continuará a empenhar-se – também na qualidade de Presidente de turno do Grupo dos 7 – pela tutela – sempre, em todo o lado, para todos – dos direitos fundamentais da pessoa, pela paz e pelo diálogo entre os povos e os Estados, pela justiça e solidariedade internacional, pela luta contra a fome, as doenças, o subdesenvolvimento, pela defesa do ambiente.
ITÁLIA – 78ª Festa da República
O Presidente da Itália, Sergio Mattarella, enviou, sábado (1º), uma mensagem aos prefeitos por ocasião do Dia da República Italiana, celebrado em 2 de junho. A data relembra os 78 anos do plebiscito que pôs fim à monarquia no país.
“Em 1946, a escolha do povo italiano pela República escreveu uma página decisiva da democracia e lançou as bases para um pacto social renovado, que seria plenamente articulado na Constituição”, escreveu o Presidente.
“Um resultado alcançado após os trágicos eventos de guerra e a luta de libertação do nazifascismo, pontuada por inúmeros episódios de heroísmo, massacres atrozes, cujo octogésimo aniversário está a ser comemorado este ano em muitas localidades”, acrescentou o chefe de Estado, concluindo que “Recordar o legado ideal desses eventos fundadores é um dever cívico”.
A Itália celebrou domingo (2) a 78ª Festa da República, data que relembra o plebiscito que pôs fim à monarquia no país. Conforme a tradição, a cerimónia oficial em Roma teve início com a deposição de uma coroa de louros no Altar da Pátria pelo presidente Sergio Mattarella.
O evento contou com a presença da primeira-ministra, Giorgia Meloni; os presidentes do Senado e da Câmara, Ignazio La Russa e Lorenzo Fontana, e o ministro da Defesa, Guido Crosetto.
Aviões da patrulha acrobática nacional sobrevoaram a Piazza Venezia, e Claudio Baglioni interpretou o hino nacional.
A tradicional parada militar, na Via dei Fori Imperiali, começou sob chuva torrencial, liderada pela banda da Arma dos Carabineiros e com a presença de 300 prefeitos de todo o país.
O tema das celebrações deste ano é “Em defesa da República, ao serviço do país”.
Mattarella enviou uma mensagem ao chefe do Estado-Maior da Defesa, almirante Giuseppe Cavo Dragone: “Celebrar os 78 anos da fundação da República Italiana evoca os valores de nossa identidade e de uma Constituição visionária e sábia fruto do extraordinário renascimento que teve início com a luta de Libertação”.
“Independência e liberdade são conquistas que devem ser defendidas diariamente, em união de propósitos e com a capacidade de cooperar pelo bem comum. Os Pais da Pátria estavam cientes dos riscos e limitações do isolamento nacional e sonhavam com uma Itália aberta à Europa, próxima dos povos que, em todo o mundo, lutavam por suas próprias liberdades”. “Nossa contribuição – e a das Forças Armadas – para a causa da paz e estabilidade internacionais é mais do que nunca valiosa na situação atual, caracterizada por devastação e agressões às populações civis na Europa e no Oriente Médio”, acrescentou.
A primeira-ministra, Giorgia Meloni, declarou, por sua vez, que “Estamos em campanha eleitoral para as eleições europeias e esta festa também nos lembra a ideia original da Europa, que era uma ideia de Europa que imaginava que sua força, a força de sua união, também era a força e especificidade dos estados nacionais. Talvez devêssemos voltar a esse embrião de ideia europeia e sonho europeu”. O pleito será realizado entre os dias 6 e 9 de junho.
No Dia da República, Liga Norte ataca o Presidente da República
A polémica surgiu da interpretação das palavras pronunciadas sábado, 1 de junho, pelo chefe de Estado: “Dentro de poucos dias, com a eleição do Parlamento Europeu, consagraremos a soberania da UE”.
O senador da Liga (do Norte), Claudio Borghi, pede a renúncia do presidente nas redes sociais: “Se o Presidente realmente pensa que a soberania pertence à União Europeia e não à Itália, por uma questão de consistência, ele deveria renunciar”.
Depois o secretário do partido Matteo Salvini: “Hoje é festa dos italianos, da República, não da soberania europeia”. A oposição levanta-se e, de vários quadrantes, a primeira-ministra Giorgia Meloni é convidada a tomar uma posição.
PIB da Itália avança 0,3% no primeiro trimestre de 2024
O Produto Interno Bruto (PIB) da Itália aumentou 0,3% no primeiro trimestre deste ano, em comparação aos três meses anteriores, informou o Instituto Nacional de Estatísticas (ISTAT) sexta-feira (31), última.
O que indica uma aceleração em relação ao último trimestre de 2023, quando a subida tinha sido de 0,1%.
Segundo o ISTAT, o PIB aumentou 0,7% em comparação com o primeiro trimestre de 2023, ligeiramente acima da sua estimativa anual provisória de 0,6%.
O PIB da Itália acumula três trimestres seguidos de alta, após a contração registada no segundo quarto de 2023. Todos os sectores – agropecuária, indústria e serviços – apresentaram crescimento, segundo o ISTAT.
BC da Itália destaca papel dos migrantes no mercado de trabalho
O governador do Banco Central da Itália, Fabio Panetta, enfatizou, sexta-feira última, a importância dos trabalhadores migrantes para o mercado de trabalho italiano, no meio do declínio demográfico ligado à queda da taxa de natalidade do país.
A informação consta nas “Observações Finais” da apresentação do Relatório Anual do Banco Central para 2023.
Segundo Panetta, embora o aumento nas taxas de emprego “pudessem contrabalançar os efeitos do declínio populacional e manter inalterado o número de pessoas empregadas, também é possível que o apoio ao emprego (virá) de um fluxo maior de imigrantes legais do que o alegado pelo ISTAT”.
Fabio Panetta, explicou que a chegada de trabalhadores migrantes “terá de ser gerida, em coordenação com outros países europeus”, e que as “medidas de integração” precisam de ser “fortalecidas”.
Panetta também lamentou o impacto dos jovens que deixaram a Itália em busca de “melhores perspectivas de emprego no exterior”, dizendo que 525 mil emigraram entre 2008 e 2022.
“Este êxodo enfraquece a dotação de capital humano do nosso país”, disse ele, acrescentando que a Itália “não está condenada à estagnação”. A recuperação registada após a crise pandémica foi superior ao previsto e à das outras grandes economias da região, mas também alertou que “não devemos ter ilusões”.
“A nossa economia ainda sofre problemas graves, alguns deles profundamente enraizados e difíceis de resolver”, concluiu ele, fazendo referência ao subdesenvolvimento do sul da Itália e à elevada dívida pública.
FONTES: ANSA, Reuters, Agência Ecclesia, ONU News, Jornal de Angola, JA Online, ANGOP
Serviços de Comunicação Institucional e Imprensa da Embaixada de Angola na Itália, Roma, 03 de junho de 2024
RESENHA INFORMATIVA N° 90: https://www.emb-baciadocongo.org/wp-content/uploads/2024/06/especial-2junho.pdf